O menino da terça-feira gorda

Gil Marcel Cordeiro
4 min readMar 7, 2022

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Nasci numa terça-feira de carnaval. Minha mãe costuma contar essa história para as amigas, sempre que estamos às voltas com mais um dos meus aniversários (o intervalo entre um e outro parece ter diminuído nos últimos anos). “O Gil nasceu numa terça de carnaval” — ela diz. Se estou na roda da conversa, costumo sempre completar com “Já nasci pulando” ou “Dá pra notar como eu gosto de folia”. Com o tempo, comecei a perceber que a frase era um mecanismo para justificar a minha quase inexistente vontade de me jogar n’alguma folia.

Não me leve a mal, eu adoro carnaval. Mas sou um folião do sofá. Filho único, de poucos amigos, cria das videolocadoras da insuperável década de 90 (ainda devo falar sobre minhas tardes revirando as prateleiras e descobrindo filmes que, de certa forma, fizeram a diferença conforme eu crescia). Inclusive, feriados prolongados como o carnaval, costumavam ser perfeitos pra se esbaldar em alguma promoção do tipo 7 Filmes/7 Dias.

Conforme os verões se acumulavam, e as escolas desfilavam, ano após ano, nos carnavais da década de 2000, eu digievolui, de um menino magrelo prum nerdzinho de nariz avantajado — com direito a brinquinho na orelha e munhequeira no braço — leitor assíduo de revistas de cinema, colecionador de fitas de vídeo e DVDs, e apaixonado por novelas e filmes de terror (uma combinação que sempre me pareceu interessantíssima, por sinal).

Crédito da Imagem: Sean Benesh (via Unsplash)

Meu primeiro e último contato com um blog pessoal havia sido há quase quinze anos. Acho que se chamava ‘gilpontocinefilo’, pra combinar com minha única conta de e-mail da época. Tentei localizar o endereço pra inserir um print e ilustrar o nosso papo, mas a URL já virou poeira digital.

No início da pandemia, quando estávamos naquele pezinho distópico de um prelúdio apocalíptico, à la Eu Sou a Lenda (e que vai ganhar sequência*), criei um podcast (o Novelesco, que você pode conhecer e ouvir, clicando aqui), com a incrível participação e colaboração de vários amigos e colegas de profissão.

Crédito da Imagem original: Divulgação — TV Globo

O Novelesco foi (e ainda é) importantíssimo pro meu amadurecimento, já que me fez exercitar, além do poder de síntese, minha capacidade de conduzir um programa com uma linha narrativa episódica definida, e que exigia uma roteirização e um planejamento de pauta bem apurados. Mas, ultimamente, sentia que precisava explorar outros caminhos.

Neste último carnaval, o de 2022, que oficialmente não aconteceu (e que, assim como a viúva Porcina, Era Sem Nunca Ter Sido), voltei a visitar minha cidade pra aniversariar mais uma vez ao lado da mãe. Mais uma vez, pipocou nas nossas conversas, o fato de eu ter nascido na tal terça-feira gorda de 87. E, justo nesta terça carnavalesca de 22, comecei a rascunhar um primeiro texto para inaugurar um espaço novo. Um espaço diferente. Onde eu pudesse arriscar insights e pitacos sobre assuntos e tags bem diferentes entre si.

Um formato diferente do Novelesco, dos meus roteiros audiovisuais, ou do meu primeiro livro (que tá beeeem no comecinho, mas que vem aí). Diferente, inclusive, do modo venho mantendo meus perfis no Twitter ou no Instagram - o meu Facebook, nem se fala (anda às moscas, e aposto que o seu também tá na mesma). Mas que, ao mesmo tempo, pudesse concentrar infos de projetos, aspirações e consumos. Um canal direto com noveleiros, cinéfilos, roteiristas e amigos, sobre o que estou vendo, ouvindo, lendo e criando.

TA-DA! Aqui estamos. Neste maravilhoso espaço minimalista do Medium.

Eu sei, nome próprio como título não é lá muito original — mas, em compensação, sempre achei meu nome legal pra caramba (este, inclusive, foi um dos maiores atos criativos de D. Márcia, a sra. minha mãe). O importante, no fim das contas, é o conteúdo. E eu já tenho uma fila de espera bem longa de ideias, que vai desde criar uma petição online para a volta do Cine Trash na Band (a emissora renovou o registro da marca no INPI, recentemente), até uma investigação criteriosa sobre um dos maiores mistérios da TV: “por que as portas nunca se fecham direito nas novelas?”.

O primeiro texto, que comecei a esboçar na semana passada, ficou pra depois. Deve ser o segundo ou o terceiro a subir por aqui. Mas vai valer a pena. Isso se eu tiver tempo de me jogar em mais essa folia.

*Só não sei como vão explicar o retorno do Will Smith.

Pra ouvir:

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Gil Marcel Cordeiro

Insights e pitacos sobre roteiro, escrita, filmes e novelas, com doses de boa e velha nostalgia noventista.